quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Nem Super Herói, nem Coitadinho!


Não tentemos criar “Super Filhos”, mas também não podemos gerar pessoas no papel de vítimas da sociedade.
Recordo-me de duas situações que exemplificam, de forma bastante ilustrativa, como atitudes extremas podem impedir a criação de adultos equilibrados afetivamente, cognitivamente e socialmente.
Estava em uma reunião de entrega das avaliações bimestrais de minha filha, quando uma mãe se levanta, dirige-se até a professora e começa a questionar sobre uma suposta dificuldade que a filha estava tendo em aprender. A professora afirmava que estava tudo bem com a criança, que ela era uma boa aluna, estava aprendendo, tudo normal. Porém, quanto mais a professora apontava as qualidades da aluna, tanto mais essa mãe se alterava, elevava o tom de voz, chegando, por vezes, a bater sobre a mesa de estudos.
A mãe chegou a questionar a metodologia da escola, a didática da professora, pois se não havia problema com sua filha e ela não conseguia aprender, então só poderia ter algo errado com a escola, professora, etc.
A conversa se estendeu por alguns minutos, até que o pai da criança interveio e conseguiu acalmar a esposa, que até no momento de sair, virou-se para trás e disse em um tom quase ameaçador: “Vamos ver como ela vai se sair no próximo bimestre.”
Eu estava tão curiosa que não me contive e perguntei à professora qual era a dificuldade da criança. Foi então que descobri que realmente não havia nenhuma, as suas notas eram 90, 95, 98 e até 100 havia. Fiquei sem entender o porquê de tanta ira da mãe, tanta cobrança, se a filha era uma das melhores alunas da turma.
A professora disse que essa mãe, assim como outras, não admite que o filho tire notas menores que 100, pois se estão freqüentando a escola, se a professora é boa e a criança inteligente, deve absorver 100% do conteúdo.
Achei absurdo e comecei a me questionar até que ponto não estamos tentando criar “Super filhos”, indivíduos perfeitos, que sabem tudo, aprendem tudo, não erram, etc.
“É urgente entendermos que cada um de nós é único, tem uma forma de aprender e necessidades especiais de aprender. Não nos esqueçamos de que “ser diferente é normal”.” Isabel Parolin
O outro extremo da situação diz respeito à permissividade, àqueles pais que fazem tudo para os filhos, colocando os no papel de vítimas, de coitadinhos, podando assim o crescimento do indivíduo, privando – os da autonomia tão necessária para o processo de aprendizagem.
Sob essa ótima vou relacionar com o caso de uma mãe que veio até a escola profissionalizante para cancelar a matrícula de seu filho.
Fui conversar com ela, tentando reverter o cancelamento. Quando questionei o porquê da desistência, ela informou que morava muito longe e que o filho ficaria muito cansado de voltar do colégio e depois ter que sair novamente para ir ao curso. Disse que no frio ele tomaria muito vento e chuva e no verão iria cozinhar no sol.
Nossa, fiquei imaginando, deve ser uma criança muito pequena, mas quando fui observar o contrato, tratava-se de um adolescente (15 – 16 anos).
Qual seria o motivo dessa mãe estar querendo proteger tanto seu filho, o que a faz cercá-lo de cuidados, não lhe permitindo amadurecer?
Constatei, então, que não é exclusividade desta família, que muitas famílias encontram-se nesta dinâmica, percebi que inclusive eu acabo privando meus filhos de tomarem decisões, agirem por sua conta e risco.
Na tentativa de nos eximir da culpa por estarmos longe de nossos filhos, em virtude do trabalho, acabamos permitindo que eles façam muitas coisas que não deveriam, os cercamos de super proteção, na melhor das intenções, sem percebermos que isso está prejudicando a aprendizagem necessária para o sucesso na vida adulta, onde não se pode culpar ninguém pelos erros, onde se devem assumir riscos calculados, nos momentos em que se tem que andar sozinho, construindo o próprio caminho.
Devemos permitir que nossas crianças tenham autonomia, independência, que procurem se cuidar e cuidar das suas coisas, claro que de maneira gradativa, responsabilizando-as por seus atos pouco a pouco, até que sejam capazes de seguir “sozinhas”, utilizando todo suporte oferecido pela família, por seus educadores.
“A família precisa organizar-se para entender que sem pais educadores para dar o modelo, não há o que reelaborar, não existe tema para conversa, para histórias, ou seja, não existe terreno profícuo para a aprendizagem.” Isabel Parolin

Filhos, melhor tê-los! (Nansert)


Gosto quando as pessoas discordam de mim, não da discordância em si, nem daqueles que discordam só para serem “do contra”.
Acontece que quando alguém não concorda com algo, ela tem que argumentar e esses argumentos, na maioria das vezes, ficam soando em minha mente até que eu possa utilizá-los de alguma forma. Para mudar minha maneira de pensar ou para sustentar a idéia que eu estava defendendo.
O fato é: quando discutimos desencadeamos e somos forçados a refletir e reorganizar o que sabemos ou que achávamos que sabíamos, para podermos construir novos conhecimentos.
Obrigada a todos aqueles que discordam de mim, hoje especialmente devo agradecer ao Cristian e à Sandra, por me proporcionarem momentos de reflexão.
As crianças, os adolescentes de hoje não se contentam com respostas do tipo: “Por que não e ponto.” Ou “Por que não é para sua idade.”
A “Geração Microsoft”, que possui um acesso rápido e irrestrito às informações, necessita de explicações claras, com justificativas plausíveis.
Desta forma, educar desta ou daquela maneira, talvez (certamente) não é o mais importante, permitir ou proibir é uma questão de cultura, de maneiras diferentes de avaliar o mundo, ou como diria a Sandra, cada um conhece seu filho e sabe até onde pode deixá-lo ir ou quando deve segurá-lo. Começo a entender que a diferença está na maneira como delineamos, como moldamos o nosso “jeitão” de educar.
Explico....
Após uma conversa acalorada, como na maioria das vezes acontece, quando o assunto é filho, fui para a Pós, minha cabeça fervia, será que eu tinha razão, ou estou fazendo tudo errado?
Como as respostas nunca tardam, lá estava eu ouvindo minha querida professora Isabel Parolin falando sobre fronteiras relacionais, sobre educação de filhos e de alunos. Os pensamentos iam e vinham, se misturavam. Comprei seu livro e comecei a ler, tentar fazer ligações, construir algo, respostas, mas quando algo já havia sido respondido, surgiam novas perguntas, que me faziam refletir mais.
Realmente educar é uma arte, que se adquire na prática, caindo e levantando, mas se estiver permeada no amor, sempre dá certo.
Educar é mexer com a emoção, do educador e do aprendiz, só é possível aprender verdadeiramente quando se está envolvido, quando acreditamos que aquilo que está sendo transmitido é verdadeiro, representativo para nossa vida, ou seja, quando trabalhamos não só com a razão, mas com o coração.
Fácil, não???????
Não, definitivamente, não é fácil, mas se faz necessário, quando estamos comprometidos como nosso futuro e com o futuro daqueles que amamos (filhos, alunos).
Pois o limite entre construir uma fronteira relacional nítida e ter comportamentos rígidos, muitas vezes, é tênue e nos faz tender para um padrão rígido do “não e ponto”.
É essa reflexão que faço e que proponho, que tipo de educação temos oferecido, como temos praticado a arte de educar?
“É preciso ser para aprender. A aprendizagem significativa é fruto da “permissão de ser”, mais que isso, é fruto da sensação de ser. Estamos falando da maneira específica e natural de ser de cada um de nós, que se transforma a medida que interagimos significativamente com o mundo e com os outros.” (Furtado, Júlio César)